POVOS ORIGINÁRIOS DO ESTADO DE SERGIPE


Tribo Xukuru-Kariri, de Palmeira dos Índios, em Alagoas e representantes da Tribo Xocó, da Ilha de São Pedro, de Porto da Folha, em Sergipe, em ato contra a privatização da Deso.

POVOS ORIGINÁRIOS DO ESTADO DE SERGIPE


As populações originárias do estado de Sergipe possuem uma trajetória marcada por diversidade étnica, resistência cultural e, infelizmente, por um intenso processo de apagamento histórico. Antes da chegada dos colonizadores europeus, a região era habitada por diferentes povos indígenas, entre eles os Tupinambá, Kiriri, Fulkaxó, Boimé, Karapotó, Kaxagó, Caeté, Aramuru e Xokó. Esses grupos ocupavam áreas estratégicas, como o litoral, os vales dos rios e, principalmente, as margens do rio São Francisco. Suas aldeias, como Poxim, Aracaju, Japaratuba, Canabrava, Pacatuba e outras, eram centros de vida social, econômica e espiritual, baseadas em sistemas de agricultura, pesca, coleta e rituais próprios.

A chegada dos portugueses, a partir do século XVI, trouxe profundas transformações. A chamada “Conquista de Sergipe”, em 1590, foi marcada por violência extrema: massacres, escravização, doenças e expulsão de indígenas de suas terras. Muitos foram mortos, outros fugiram para regiões vizinhas, como Alagoas e Bahia, e alguns poucos conseguiram resistir, escondendo-se em áreas de difícil acesso. A colonização impôs não apenas a perda de território, mas também a tentativa de apagar línguas, crenças e modos de vida tradicionais. O processo de catequização, conduzido por missionários, buscou assimilar os indígenas à cultura europeia, muitas vezes de forma forçada.

Ao longo dos séculos seguintes, a presença indígena em Sergipe foi sistematicamente invisibilizada. A historiografia oficial, por muito tempo, ignorou ou minimizou a contribuição desses povos para a formação da sociedade sergipana. No entanto, traços dessa presença permanecem vivos na toponímia local: nomes de cidades e rios como Sergipe (“no rio dos siris”), Aracaju (“cajueiro dos papagaios”), Japaratuba e Pacatuba têm origem tupi-guarani, evidenciando a marca indígena no território.

Atualmente, Sergipe possui uma das menores populações indígenas do Brasil. Segundo o Censo 2022, cerca de 4.708 pessoas se autodeclaram indígenas, o que representa apenas 0,21% da população estadual. A maioria vive em áreas urbanas, especialmente em Aracaju, mas também há presença significativa em municípios como Porto da Folha, onde se localiza a única Terra Indígena oficialmente reconhecida no estado. Nessa região, vive o povo Xokó, que habita as aldeias Ilha de São Pedro e Caiçara, às margens do rio São Francisco. Os Xokó, atualmente com cerca de 331 pessoas vivendo em território tradicional, são herdeiros de uma longa história de resistência e luta pela terra.

A trajetória dos Xokó é emblemática. Durante séculos, sofreram com a perda de territórios, discriminação e tentativas de apagamento cultural. No entanto, conseguiram preservar práticas tradicionais, como o Toré e o Ritual do Ouricurí, que são manifestações religiosas e culturais de grande significado. Além disso, a convivência com comunidades afro-brasileiras, especialmente quilombolas, resultou em trocas culturais, como a incorporação do samba de coco nas festas indígenas. Essa miscigenação contribuiu para a riqueza e singularidade da cultura Xokó.

A luta dos povos indígenas sergipanos é, ainda hoje, marcada pela busca de reconhecimento, respeito e garantia de direitos. O movimento indígena local tem se articulado para resgatar a memória coletiva, fortalecer a identidade e reivindicar políticas públicas específicas. O desafio é grande: envolve desde a demarcação de terras até o combate ao preconceito e à invisibilidade. Apesar das adversidades, a presença indígena em Sergipe resiste e se reinventa, reafirmando sua importância para a história, a cultura e a diversidade do estado. O reconhecimento pleno dessas populações é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, plural e comprometida com a reparação histórica.

AGORA ACESSE A PROPOSTA DE TAREFA. TAREFA: 07/05/25